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22 de março de 2022

No mercado financeiro, água já é considerada o ‘ouro azul’

No Brasil e no exterior, gestoras lançam aplicações financeiras focadas em empresas ligadas ao setor

No momento em que o mundo discute o risco de escassez de água em um futuro não tão distante, o setor financeiro se antecipa e vê no ativo uma boa chance de investimento. Embora seja um bem renovável, diferentemente do petróleo, a tese é que, com cada vez menos oferta, a água tende a se valorizar, beneficiando empresas que fazem tratamento, distribuição e captação — e trazem inovações ao setor.

Por isso, no mercado financeiro, a água é chamada de “ouro azul” e já está presente no portfólio de diferentes produtos de investimento. Nos EUA, desde 2020, a Bolsa de Chicago e a Nasdaq lançaram os primeiros contratos futuros de água na Califórnia.

O objetivo é possibilitar aos produtores agrícolas, comerciantes e até mesmo aos prefeitos de cidades da região a possibilidade de fazer proteção (hedge, no jargão dos investidores) contra a alta de preços e problemas adiante de disponibilidade.

Um contrato futuro é um compromisso assumido entre duas partes de comprar ou vender determinado ativo em uma data combinada a um certo preço. A Califórnia é o maior mercado agrícola dos EUA, e o estado vive severa crise hídrica nos últimos quatro anos.

Boas práticas:

— Não tenho dúvidas de que o mercado futuro de água vai crescer, e grandes empresas, com uso intensivo, como bebidas e jeans, serão os principais agentes. Será uma forma de se proteger de escassez e alta de preços futura — diz o consultor independente de investimentos, Paulo Bittencourt.

´É possível investir em ações de empresas ligadas ao tratamento de água e ao saneamento na B3. Também existe a opção de garimpar ações da área em Bolsas no exterior.

Para quem não está habituado ao sobe-e-desce da Bolsa, uma estratégia é procurar fundos de investimento. Nesse caso, o investidor terá a ajuda de um estrategista buscando as ações ligadas à água que acredita terem maior chance de valorização. Já existem produtos do tipo no Brasil, que investem em ações de empresas locais e internacionais.

— A tendência de investimento em água já existe no exterior, e por aqui estes produtos já estão disponíveis. Para os brasileiros, investir em água pensando na escassez é uma tese ainda difícil, já que estamos acostumados com abundância do produto — diz George Wachsmann, estrategista de investimentos e sócio fundador da Vítreo.

Desde julho de 2021, a gestora lançou o Vítreo Água. Trata-se de um fundo de investimento em ações e ETFs (do inglês Exchange Traded Funds, ou fundos de índice, negociados na Bolsa de Valores como se fossem uma ação). O objetivo deste tipo de aplicação é se beneficiar da valorização de empresas que desenvolvem novas tecnologias para distribuição, purificação e tratamento da água.

Realidade da crise hídrica

O valor inicial de aplicação do fundo é de R$ 100, e a taxa de administração, de 0,9% ao ano. No prospecto, a Vítreo alerta para o fato de que, mesmo no Brasil, país com a maior reserva de água doce no mundo, a crise hídrica já é realidade. E que a inovação é necessidade latente, o que pode levar à valorização das ações de empresas do setor.

O Itaú lançou, no fim de 2020, o Itaú Index ESG Água, que reúne ações de 50 empresas globais de dez países com negócios relacionados à água. O Itaú lembra que 2,2 bilhões de pessoas no mundo não têm acesso à água potável e 4,2 bilhões carecem de saneamento básico. A aplicação mínima começa em R$ 1, e a taxa de administração é de 0,8% ao ano.

— O mundo enfrenta o desafio da escassez de água, temos urbanização em massa, mudanças climáticas e Covid. Esses eventos mostraram como é importante ter fonte próxima. E o fundo foca em práticas ESG (siga em inglês para ambiental, social e governança) investindo em empresas cujo negócio é ligado, de forma positiva, à água — diz Renato Eid Tucci, superintendente de Estratégia Beta e Integração ESG da Itaú Asset.

A XP lançou em julho o Trend Água Tech, fundo com exposição ao Invesco Water Resources ETF, referenciado ao índice Nasdaq Water Index, composto por cerca de 30 empresas com negócios relacionados à conservação, tratamento e purificação da água.

A estratégia é oferecer alternativas para proteção dos riscos de mudança climática que podem causar escassez de recursos hídricos. O investimento inicial é de R$ 100, e a taxa de administração de 0,5% ao ano. 

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